As ações em favor da preservação ambiental são amplas e variadas, e é dever de todos.
Ivonete Reis / CCOM / terça-feira, 28 junho , 2022
Por: Jailson Dias
As ações em favor da preservação ambiental são amplas e variadas, indo desde a separação do lixo em material orgânico e reciclável, uso racional da água, até atitudes de maior impacto, como a militância. Esse é o caso de Josely Clementino de Moura Santos, mais conhecido por Josely Ecologista, 49 anos. Natural de Picos, mas residindo em Dom Expedito Lopes há 15 anos, ele desenvolve o trabalho voluntário de mapeamento das riquezas ambientais do Piauí, como cachoeiras, fontes naturais d’água e até pinturas rupestres, além de ministrar palestras sobre conscientização ambiental.
O trabalho de conscientização da população desenvolvido por Josely é totalmente voluntário, movido apenas pelo amor pela natureza e o desejo de fazer a sua parte em busca de um mundo melhor. Muitas vezes em suas andanças o ambientalista se depara com a degradação provocada pelo ser humano na natureza. As pessoas descartam garrafas pet e sacolas plásticas em meio à mata e até fazem pichação
nas pinturas rupestres.
Contudo, as más atitudes de alguns não esmorecem Josely. Ele aposta na educação como forma de sanar gradualmente o sério problema da degradação ambiental. “Já temos conversado, jogado na mídia, buscando fazer palestras, mostrando a essas pessoas que para viver bem, precisamos estar cientes que se
não protegermos o meio ambiente, amanhã, o ser humano vai sentir falta”, frisou.
Esse trabalho de conscientização já é desenvolvido por Josely na região de Picos há 20 anos. Ele acredita que ao longo desse tempo tem havido uma mudança sensível na forma de pensar de muitos cidadãos, contudo ainda precisamos avançar muito. O ambientalista pede mais participação dos poderes públicos: federal, estadual e municipal na fiscalização e promoção de ações afirmativas, como a educação.
A preservação ambiental, além de garantir o futuro dos seres humanos e demais formas de vida que habitam o planeta Terra, também pode gerar renda, oferecendo uma forma digna de sobrevivência para as pessoas. Josely salienta que além da “Capadócia Nordestina”, há outro projeto que pode ampliar a preservação e o turismo no Piauí.
“Juntamente com o pessoal da SEMAR (Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí) estamos com um projeto da Capadócia Piauiense, porque temos as formações rochosas em São José, Santana do Piauí, em São João da Canabrava, Lagoa do Sítio e Ipiranga, ou seja, são muitos municípios que tem essas formações rochosas, e é uma riqueza arqueológica, então esperamos que
haja um olhar melhor para esses locais que poderiam estar trazendo renda”, frisa o ecologista.
Inovação e dedicação
O terapeuta naturalista Kennedy Pedro de Sousa Pereira Costa, mais conhecido por Dr. Kennedy Costa, 51 anos, orienta as pessoas a terem uma alimentação correta produzindo o próprio alimento, utilizando técnicas alternativas, naturais sem o uso de agrotóxicos. “Em sintonia com o meio ambiente, respeitando a flora a fauna”, relatou.
Possuindo experiência como apicultor, Kennedy Costa decidiu inovar e agora é meliponicultor, ou seja, ele cria abelhas indígenas que não possuem ferrão. Kennedy desenvolve esse trabalho em sua propriedade no município de Sussuapara. “São caixas menores específicas para abelhas sem ferrão, inclusive o manejo é muito mais fácil do que na apicultura”, explicou.
O terapeuta informa que o seu objetivo ao criar abelhas sem ferrão não é comercial, mas ajudar na perpetuação desses animais que estão ameaçados de extinção. Com isso, o criador espera que mais pessoas sigam o exemplo e ajudem a perpetuar a espécie. As abelhas são insetos fundamentais para o meio ambiente, pois são elas que fazem a polinização das plantas.
Sobre a produção dos próprios alimentos, o terapeuta naturalista afirma que já podem ser verificadas outras iniciativas semelhantes por parte de produtores e de pessoas que residem em Picos, embora ainda sejam casos isolados.
Embora perceba uma mudança para melhor na consciência da população quanto ao meio ambiente, Kennedy Costa acredita que a defesa do meio ambiente ainda precisa avançar muito. É comum ver muitas pessoas fazendo o descarte errado do lixo, inclusive nas vias públicas no centro da cidade de Picos.
“Eu acredito que a melhora tem que ser em cada um, nos pequenos atos, as pessoas estão andando no carro, bebem água e jogam a garrafa na rua, as pessoas fazem o lanche e jogam o copo na rua, ainda está muito longe, mas já existe uma semente que está produzindo bons resultados”, declarou Kennedy Costa.
Do dever de cada cidadão
A Constituição Federal de 1988 deixa claro que a defesa e proteção do meio ambiente é um dever de cada cidadão. O caput do Art. 225 diz: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Mesmo tipificado em lei, a defesa do meio ambiente não mostra ser uma preocupação do cidadão brasileiro. Conforme já dito pelo terapeuta Kennedy Costa nesta reportagem, percebe-se o descaso da população até no descarte do lixo, o que pode ser comprovado nas ruas, terrenos baldios e regiões de mata nativa de Picos.
Segundo informações da Secretaria Municipal de Serviços Púbicos de Picos, responsável pela coleta do lixo, os moradores costumam descartar aquele material que não tem mais serventia no centro da cidade, em locais que não tem essa utilidade, dentre eles: ao lado do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), no bairro Parque de Exposição; ao lado da Escola Normal Oficial de Picos (ENOP), na Rua São Marcos, Centro; nas Ruas Bahia, Parnaíba, João XXIII, no bairro Paroquial; em frente ao antigo Centro Administrativo, nas proximidades da Unidade Escolar Polivalente Desembargador Vidal de Freitas, entrada do bairro Ipueiras.
Os pontos listados são apenas alguns dos locais onde se verifica a má ação humana. Ainda que o caminhão coletor atrase ou deixe de passar um dia, cabe a cada cidadão zelar pela limpeza da cidade e consequentemente pelo meio ambiente.
O ex-secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Picos (SEMAM) e ex-coordenador das Bacias Hidrográficas dos Rios Piauí e Canindé, advogado Glauber Silva, comentou que na época em esteve à frente da pasta (2013-2016) notou a ausência de consciência ambiental por parte da população picoense. Ele percebeu que as palestras sobre a importância da preservação sempre foram fundamentais.
Gláuber frisou a problemática do lixo descartado irregularmente nas ruas da cidade, ou mesmo em locais que deveriam ser de grande zelo, como o Rio Guaribas. Em alguns casos chegam a jogar colchões e outros objetos nas águas do Guaribas. O lixo a mata tornam quase impossível vê-lo no perímetro urbano de Picos.
Segundo o advogado, existe a possibilidade de recorrer ao Poder Judiciário para coibir crimes ambientais, contudo essa atitude é quase inexistente. “Os crimes estão aí, a gente que milita nessa área ambiental percebe que há muito o „deixa pra lá‟, as pessoas até observam o crime ambiental, uma empresa colocando os dejetos no rio, o pneu em algum local indevido, e fica por isso mesmo”, relatou o advogado.
Palestras e mapeamento: as ações do poder público
Atualmente, apenas a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAM) desempenha o papel de zelar pela natureza em Picos. A cidade não conta com um escritório da SEMAR-PI (nunca contou) nem do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Este último existia, mas fechou as portas há quase dez anos.
Além das palestras sobre a conscientização ambiental ministradas nas escolas e comunidades, o Departamento de Educação Ambiental da SEMAM, através das educadoras ambientais Ruthy Costa (que também é jornalista e professora) e Nilma Nascimento, tem desenvolvido o projeto de mapear as fontes naturais de água do município de Picos.
Além do mapeamento, catalogação e demarcação desses nascedouros de água, as servidoras públicas do departamento tem a possibilidade de conversar com as pessoas e instruí-las sobre como preservar as nascentes. Isso permite a multiplicação da informação no sentido de ampliar a consciência ambiental. Um lugar bonito, limpo e preservado também pode significar uma fonte de renda através do turismo ecológico.
Na luta pela conscientização das pessoas, também se soma a Coordenadoria do Corpo de Bombeiros de Picos. Os militares dessa instituição ministram palestras constantemente sobre a importância de zelar pelo meio ambiente e controlar as temidas queimadas. Segundo o sargento Sousa Júnior, neste ano de 2022 foram verificadas apenas 07 ocorrências de incêndio em vegetação, enquanto no mesmo período de 2021 foram 45 ocorrências.
A queda número de queimadas pode ser atribuída ao período chuvoso que se estendeu além do esperado. Sousa Júnior já sabe que com a chegada do período mais seco, os focos de incêndio deve se multiplicar. “As orientações que passamos para a população são as mesmas: evitar incêndio em terreno baldio, em lixo, porque isso entra na parte de crime ambiental”, frisou o militar.
O sargento salienta que a prevenção é a melhor forma para evitar os crimes ambientais
As consequências e a coletividade
A destruição do meio ambiente representa a queda na qualidade de vida do próprio ser humano. As queimadas combatidas pelos bombeiros todos os anos em Picos, ocasionam problemas respiratórios em crianças e idosos, além de contribuírem para a elevação da temperatura, que chega fácil aos 40°.
O descarte irregular do lixo, como pneus e garrafas pet, resulta no acúmulo de água e com isso no criadouro do mosquito aedes aegypti, transmissor da dengue, zika vírus e febre chikungunya. Basta saber que segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) foram registrados 1051 casos de Chikungunya em Picos até este mês de junho, além de duas mortes provocadas por esta doença. O ser humano dificulta a própria existência.
Em uma perspectiva macro, a devastação das matas faz com que muitos animais fujam para as cidades, onde ocorrem acidentes envolvendo os seres humanos. Destaca-se ainda o surgimento de novas doenças a partir de vírus que não afetamos animais silvestres, mas se mostram letais para as pessoas.
Ações como as desenvolvidas pelo Josely Ecologista e o terapeuta Kennedy Costa são louváveis e devem ser incentivadas. Espera-se que elas sirvam de exemplo para que a população como um todo compreenda e procure assegurar a própria sobrevivência e das gerações futuras. “O ser humano tem que entender que para melhorar, precisamos da coletividade, de um todo”, finalizou Josely Ecologista.
Reportagem que conquistou o primeiro lugar, no 4° Concurso de Reportagem Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Picos.